Na quaresma, a Igreja católica promove a Campanha da Fraternidade propondo a conversão pessoal e social de uma realidade marcada pelo pecado, nas suas expressões de injustiças, omissões e opressões, para uma sociedade fraterna. Em 2022, reflete-se sobre a educação, na certeza de que ela é indispensável para a construção de um mundo mais justo e fraterno. A realidade da educação no Brasil, especialmente marcada pelo flagelo da pandemia da Covid-19, exige uma mudança de mentalidade, reorientação da vida, revisão das atitudes e busca de um caminho que promova o desenvolvimento pessoal integral, a formação para a vida fraterna e para a cidadania.
Esta é a terceira vez que a CNBB aborda essa temática na Campanha da Fraternidade, agora, incentivada pelo Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco. Este, visa uma educação humanizada que contribua na formação de pessoas abertas, integradas e interligadas, que sejam capazes de se preocupar, também, por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza. Urge reaprender a amar, a perdoar, a cuidar, a curar, a dialogar e a servir a todos. Essa conversão para a fraternidade somente será possível à medida em que Cristo, que nos liberta do egoísmo, for tudo em todos (1 Coríntios 15.22).
O número 22 do texto-base da Campanha da Fraternidade expressa essa relação entre Cristo e a educação que se propõe neste momento de crise: "Educação não é condicionamento ou adestramento. É conduzir e acompanhar a pessoa para sair do não saber, rumo à consciência de si mesma e do mundo em que vive. É tornar a pessoa consciente, para que se torne sempre mais sujeito de seus sentimentos, pensamentos e ações. Isso vale tanto para crianças como para adultos, uma vez que a própria vida se encarrega de nos trazer oportunidades de aprendizagem em qualquer etapa. Uma pessoa se torna sujeito na medida em que pode dialogar com outras, percebendo que é levada a sério, que é escutada e amada".
Enfim, a Campanha da Fraternidade destaca dois aspectos fundamentais: o valor da pessoa como princípio da educação e o sentido do ato de correção, que é conduzir ao caminho reto. Não é repressão, mas é orientar a pessoa no caminho de uma vida transformada, verdadeiramente convertida à luz da verdade. Essa consciência de que há uma emergência educativa em nosso mundo, e especialmente no Brasil, reflete bem o que escreveu o Papa Francisco na Laudato Sí, apelando para uma conversão de vida: "a educação será ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza» (n. 215).
A Campanha da Fraternidade 2022 expressa o empenho por uma educação humanizadora capaz de ensinar com amor, como preconizou Hannah Arendt: "a educação é o momento que decide se nós amamos suficientemente o mundo para assumir a responsabilidade e assim salvá-lo da ruína, que é inevitável sem a renovação, sem a chegada de novos seres, de jovens".
Texto: Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo Metropolitano de Santa Maria